EXISTENCIALISMO EVANGÉLICO: PROFECIAS E PROFETADAS E A VOLTA DE KIERKEGAARD
Quero lembrar neste
artigo, algo que foi dito em algumas décadas por Francis A. Schaeffer sobre o
filósofo Soren Kiekegaard. Schaeffer disse (Morte da Razão, p. 21), que
ele foi o primeiro homem abaixo da linha do desespero humano. Isto significa que
ele criou um protótipo de existencialismo cristão. Quero lembrar porque o mundo evangélico está, penso eu,
na ascensão do existencialismo evangélico. Pastores pregam e
tiram lições (proféticas) de coisas que Deus nunca falou, ou melhor, são
inventadas para vender determinadas ideias e para formalizar uma forma de
Cristianismo que não é verdadeiro.
As promessas dentro
dessas profecias são as mais esquisitas, especialmente aquelas que estão
relacionadas a interpretação bíblica. A Bíblia é usada para a extração de
ideias malucas e absurdas tais como: assim como Davi venceu o gigante você vai
vencer todos os problemas financeiros, ou ainda: com os 318 pastores você vai
vencer, etc.... Qualquer pessoa com um mínimo de sensatez veria nesta ideia
algo esquizofrênico. Ao mesmo tempo, isto vem de uma geração em que o
intérprete é o senhor da interpretação, por causa do existencialismo.
Vamos voltar ao
pensamento de Kierkegaard para entender um pouco dessa loucura! Paul Strathern
fala o seguinte sobre o existencialismo proposto por Kieerkegaard: "Então
surgiu o existencialismo, que não exigia que se acreditasse em nada. Na
verdade, ressaltava mesmo que o desespero era parte da condição humana
[...] A filosofia central do existencialismo — “o problema da existência”
— foi considerada um produto típico do século XX, com suas características
alienação, angústia, absurdo e preocupação com temas inquietantes do
gênero."
É interessante
notar que algumas características do existencialismo estão presentes no mundo
evangélico hoje:
1) No Existencialismo havia uma
preocupação tremenda entre a relação interna do ser humano e o mundo. No
existencialismo cristão hoje vemos algo beirando o desespero.
Os cultos e os
shows são formas de extravasar os sentimentos repreendidos durante anos da
repressão sexual, repressão dos pais, da pobreza, e como os gritos num campo de
futebol, a igreja extravasa e o único interessado não é Deus, mas o
ser humano, a minha hora, o meu eu, simplesmente: nós mesmos.
2) No Existencialismo, tudo era voltado
para o "eu" fazendo com que o mundo girasse em torno de nós mesmos.
No existencialismo cristão da pós-modernidade, a mesma verdade é
vista nas pregações e interpretações de vários profetas prometendo e vendendo
"o melhor desta terra".
Interpretando os
tesouros de Israel e as profecias de forma literalista para "nós".
Deus vai fazer você prosperar, e isto é se você seguir as regras e os
"mantras" dos gurus espirituais. Parece que paira nesse tipo de
teologia a ideia de que: "eu sei o caminho das pedras e você não
sabe". Princípios da Bíblia são ignorados pela outra bíblia que é pregada
por esses profetas.
3) No Existencialismo de Kieerkegaard
havia uma ênfase na subjetividade, isto é uma existência sem princípios muito
claros de vida. Essa mesma ênfase subjetiva é vista na vida do evangelicalismo
hoje.
Vejamos
algumas ênfases da pós-modernidade cristã: falta de compromisso com a Igreja de
Cristo, falta de compromisso em pregar o Evangelho e compartilhar a fé; falta
de amor pelos irmãos da fé, aos doentes, aos velhos, às crianças, então
"não tô nem aí". O lema de Zeca Pagodinho poderia ser a existência de
muitos cristãos hoje: "deixa a vida me levar, vida leva eu, sou feliz e
agradeço, por tudo o que deus me deu". A única coisa que interessa para
muitos cristãos é o que o "deus" da existência pode me proporcionar.
Os fins sem princípios justificam os meios sem escrúpulos.
4) No Existencialismo os prazeres
hedonistas e sensoriais foram liberados a proporções extremas sem a preocupação
com a moral e com Deus.
No
Existencialismo Religioso os prazeres sensoriais não foram totalmente
libertados de Deus, mas em Deus eu posso tudo o que o meu prazer quer. Eu
desejo em Deus, assim Evangélicos estão usando os mesmos artifícios dos que não
tem princípios bíblicos tais como: Shows, cultos que procuram agradar as
pessoas, pastores que pregam para agradar os ouvidos dos ouvintes, pessoas
escravas de desejos e a mercê de situações.
5) Assim como no Existencialismo surgiu
um pragmatismo existencial, hoje o evangelicalismo, pelo seu pragmatismo
"gospel" despreza o velho para ressaltar o "ic et nunc",
aqui e agora.
Deus é
importante dentro do meu pragmatismo, isto é, se tudo estiver bem comigo, vou
contribuir, ou melhor vou contribuir para receber. Deus passou a ser um
"gênio da lâmpada" que satisfaz todos os desejos daqueles que são
"fiéis". Em termos musicais, as Igrejas que cantam a moda ditada pelo
mercado gospel é "a Igreja". Certa vez convidei um irmão para pregar
e ele trouxe um conjunto. Quando fui selecionar alguns cânticos para a igreja
cantar, fui ridicularizado pelo pianista que disse: "- pastor isso é muito
velho, eu me recuso a cantar isso". Não tenho nada contra o novo, gosto de
coisas novas, mas como alguém que entende um pouquinho de música digo, no
mercado há muita música pobre. A minha preocupação é este desprezo pelos hinos,
pelas músicas que fizeram parte da vida dos nossos irmãos e que hoje são
desprezadas pelos "jovens pós-modernos". Isto é existencialismo
levado a potências perigosas.
6) No Existencialismo o ser era o foco
principal, no Evangelicalismo contemporâneo, também.
Embora
devemos agradar as pessoas, o culto, as músicas e a vida devem ser feitas para
agradar a Deus. Tiago nos diz que manter um relacionamento de amizade com as
coisas deste mundo é perigoso, (Tg 4:5). Ao mesmo tempo Efésios 6:6 nos ensina:
"Näo servindo à vista, como para
agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de
Deus." Nós não fazemos culto e reuniões para fazer
as pessoas se sentirem bem. Tenho escutado alguns dizendo que a igreja da
pós-modernidade tem um "novo formato", as pregações são como
capítulos de uma série, o louvor é sensível ao coração, pergunto de quem? O
Pastor, nestas igrejas não precisa usar terno e gravata, pois isto assusta as
pessoas. Sua mensagem deve ser bem confortável e não se deve usar termos
difíceis como justificação, trindade, etc..., e coisas do gênero. O pastor em
algumas Igrejas tem "banqueta", mais para parecer um
"bate-papo". Na hora de louvar a Deus, fique a vontade, isto é
sentado, não precisa se levantar na presença do Rei dos reis.
7) Kierkegaard falou sobre o salto de fé, o Evangelicalismo prega um
salto de fé em várias áreas que é uma fé sem conteúdo bíblico.
Este salto de fé é um tipo de pregação
sem sentido (pra quem tem conteúdo) pois não se baseia nas proposições claras
da Escritura e sim na subjetividade. Por exemplo, Jesus curou o leproso em Mt
8:1-5, o texto é uma narrativa que demonstra a sensibilidade de Jesus, o toque
de Jesus, a manifestação do poder de Jesus, e a vontade de curar de Jesus, etc...;
mas dizer que Jesus cura toda a enfermidade é um erro. Ele pode curar por que
Ele é Deus, mas o texto não nos garante que Ele vai curar qualquer enfermidade.
Desta forma de pensar, muitos vão atrás desse tipo de pregação pois apelam muito
para o “salto de fé”. Quando vejo alguém dizendo: “você vai prosperar!”, penso
que isto é um salto de fé sem o menor conteúdo.
Assim como o
Existencialismo focalizava somente o ser, o Evangelicalismo moderno focaliza a
Igreja em si. Esta é uma característica da Globalização segundo Chunakara:
"a Globalização parece que torna o mundo tão pequeno valorizando cada
pedaço, a isto chama-se de colonialismo como uma forma de exploração de cada
parte e cada lugar." (http://www.religion-online.org/showbook.asp?title=1559 acessado em 25/02/2013 as 10:50). Como se pode ver há no meio Evangélico
um despertar local, não mais visto como a "santa grei", "os
cristãos", mas uma fixação local, tal como: minha Igreja, minha
comunidade, e meu Cristo. Eclesiologicamente falando, isto é o contrário do
ideal de Igreja proposto pelo Senhor Jesus em Jo 17.
Desculpe a minha
ironia, mas as recomendações da Palavra de Deus e algumas características do
culto reformado estão desaparecendo. Essa é a minha crítica pela volta do
Existencialismo de Kierkegaard. Que o Senhor nos ajude a viver em tempos tão
confusos.
Pense nisto!
Rev. Dr. Edvaldo Beranger
Pastor da I.P. de Araçoiaba da Serra e
Professor na área de hermenêutica.